sexta-feira, 17 de abril de 2009



Antigamente, essa era a descrição literal. Significa alguém que havia abandonado o centro agitado da vida mundana para ir morar no limite da floresta, onde viviam os mestres espirituais. O antevasin deixava de ser um aldeão - não era uma pessoa com uma vida convencional.
Mas ele também não era um trascendente - não era um daqueles sábios que vivem bem lá no fundo das matas intocadas, plenamente realizados. O antevasin era alguém que vivia no meio. Era um habitante da fronteira. Vivia em um lugar onde podia ver os dois mundos, mas olhava rumo ao desconhecido. E era um estudioso. Na época moderna, é claro, essa floresta virgem teria de ser em sentido figurado, e a fronteira também. Mas ainda é possível viver aí. Ainda é possível viver nessa linha tremeluzente entre seus velhos pensamentos e a sua nova compreensão, em um eterno estado de aprendizagem.
No sentido figurado, trata-se de uma fronteira que está sempre em movimento - conforme você avança em seus estudos e em suas realizações, essa floresta misteriosa do desconhecido está sempre há alguns metros à sua frente, de modo que você precisa viajar com pouca bagagem para conseguir acompanhá-la.Precisa manter móvel, maleável, flexível. Escorregadio, até.
"Sou apenas uma arisca antevasin, nem isso nem aquilo,
uma aprendiz da fronteira em eterna mutação,
próxima à floresta maravilhosa
e assustadora do novo."
*
Texto tirado do livro: "Comer, rezar e amar", de Elizabeth Gilbert